Carro de amigo – Rodrigo “West”

Todo mundo tem um amigo esquisito. Eu tenho vários (incluindo eu mesmo), mas poucos são tão esquisitos quanto o Rodrigo Westphal, conhecido simplesmente como “West”.

E porque ele é esquisito? Vejamos, o cara mora em Blumenau na beira de um barranco (aliás, ele morava no meio do morro, mas depois das chuvas de 2008 ele passou a morar na beira do barranco mesmo), largou o emprego de engenheiro numa renomada fabricante de automóveis para seguir carreira de modelo (isso é coisa de v****) e foi um dos primeiros loucos do Brasil a ter um Corsa 2.0 (isso mesmo, Corsa dois ponto zero!).

West bêbado na Bélgica, virando mais uma Westvleteren...
West bêbado na Bélgica, virando mais uma Westvleteren…

Pois bem, a maior virtude do West não foi a de ser o primeiro a montar um Corsa 2.0, mas sim de ser o primeiro a mostrar o caminho das pedras para todos aqueles que quisessem colocar um motor General Motors Família II na linha Corsa.

Isso por si só já faz do West um cara legal. Legal, pois sempre que algum bundão descobre alguma coisa legal em mecânica automotiva, geralmente o imbecil quer levar isso para o túmulo ou quer cobrar os olhos da cara para fazer a mesma coisa no carro dos outros.

Antes do West, praticamente TODAS as revistas do país diziam que esta modificação era impossível: “Não vai caber”, “É preciso alargar as torres de suspensão”, “Vai custar muito caro”, eram frases comuns ditas por aí antes que o West colocasse a boca no mundo.

O Corsa verde do West, ainda "milzinho".
O Corsa verde do West, DOIS PONTO ZERO.

O Corsa Wind verde estava na família do West desde 1997, quando foi comprado zero quilômetro. Em julho de 2000 o West “tomou posse” do carro, que até então não passava de um pacato Corsinha 1.0 com vidros e travas elétricos, alarme, insulfilm, painel do Corsa GL com contagiros e volante do Vectra GLS.

Certo dia o West achou que o carro estava meio “chocho” e foi apresentado ao tio de um amigo, dono de uma oficina mecânica em Blumenau. e proprietário de um Corsa 2.2.  Conversando com ele, logo surgiu o espanto, tanto pela facilidade da adaptação quanto pelo desempenho fenomenal do Corsa.

Convencido da facilidade da adaptação, o West tratou de procurar um motor GM 2.0 em um desmanche. Achou um motor de um Vectra 1995 , novinho, e a única modificação foi a troca da tampa de válvulas pela dos Vectras a partir de 1996.

 

Pra quem dizia que o motor não cabia...
Pra quem dizia que o motor não cabia…

Depois de vários telefonemas e visitas ao mecânico o West acertou tudo e deixou o carro na oficina por uma semana, tempo mais do que suficiente para realizar a adaptação. Quando finalmente colocou as mãos  no carro a surpresa foi grande, pois  ao jogar a segunda marcha o carrinho não parava de patinar: ainda estava calçado com pneuzinhos originais, 165/70 R13.

Logo vieram rodas de aro 14 (do Vectra GLS) com pneus mais largos e uma suspensão mais firme, com molas dianteiras da Corsa pick-up com ar-condicionado, para suportar o motor um pouco mais pesado.  A única modificação no motor foi a adoção de um coletor de escapamento 4×1, o que contribuiu para o fato do carro não dar problemas, mantendo um consumo compatível com qualquer carro 2.0, média de 12 Km/L.

A adaptação pediu apenas uma peça de metal, que serviu unicamente para ligar o suporte da carroceria ao suporte do motor. Para facilitar ainda mais o serviço, todos os motores da Família 2 (1.8, 2.0, 2.2, 2.4) da GM possuem exatamente o mesmo padrão de encaixe no câmbio dos motores da Família 1 (1.0, 1.4, 1.6 e 1.8).

Isso permitiu o uso da caixa de câmbio original do Corsa, no caso uma transmissão F15 com diferencial 4.19:1 (do Corsa Sedan GLS 16v 1999). As homocinéticas e semi-eixos permaneceram os mesmos do Corsa 1.0 e aguentaram bem o tranco.

Legítimo "pega trouxa"
Legítimo “pega trouxa”

O corpo de borboleta continuou o mesmo do Corsa Wind 1.0, mas retrabalhado com o miolo do Vectra, com 55mm de diâmetro. O filtro de ar também permaneceu original,  apenas deslocado 2cm para a esquerda.

Os bicos injetores e sensores da injeção eletrônica permaneceram originais do motor 2.0, devidamente ligados no chicote da injeção do Corsa. O módulo da injeção foi trocado pelo do Corsa 1.6 8V e a bomba de combustível permaneceu inalterada. A embreagem e o volante do motor vieram do Astra 1.8, mais leves, permitindo uma subida rápida de giros do motor.

Para garantir a dirigibilidade do Corsinha, o West instalou discos ventilados e suas respectivas pinças (de Corsa 1.6), barra estabilizadora dianteira, amortecedores pressurizados e as já citadas molas dianteiras do Corsa pickup.

DESEMPENHO Com peso de 900kg, 110 cavalos e 17kgfm de torque a uns 2800 rpm, o desempenho do Corsa só poderia ser mesmo muito bom: aceleração de 0 a 100 Km/h em oito segundos baixos. Em uma prova de arrancada, o carrinho cravou 10,004 segundos no 1/8 de milha (201 metros),  incluindo a reação do piloto. 

“O carro era fantástico: podia retomar em quinta marcha a 40km/h subindo morro. Retomadas de 40 a 100km/h em quinta marcha em menos de 13 segundos. Uma vez em Balneario Camboriú brinquei com uma BMW M3 E46 de lombada a lombada, o Corsa foi junto, quando ele pulou meio carro na frente chegou a outra lombada. Parei no semáforo e perguntei se ele tinha pisado, o cara repondeu que estava em segunda… E eu também!”

LEGALIZAÇÃO – Para legalizar o Corsa, bastou ao West fazer um pedido de alteração da potência nominal ao Detran, justificando com base no Artigo 1o, inciso VII da Resolução 25/98 do Contran. A autorização saiu em pouco tempo, restando ao West fazer as modificações no carro e apresentar a nota fiscal do motor 2.0.

No documento: 110 cavalos.
No documento: 110 cavalos.

Depois de tudo pronto, foi só fazer a vistoria, onde foi emitido um Certificado de Segurança Veicular (CSV), constando a nova potência.  O restante é praxe de qualquer despachante: solicitar o novo documento, fazer uma vistoria no órgão de trânsito para tirar o número do novo motor.

O seguro foi um caso a parte. O West apenas enviou o documento para a seguradora, sem vistoria mas já constando os 110 cavalos. Não houve complicações e o preço foi normal, mas o que ocorreu foi que fizeram tudo como se o carro fosse 1.0.

QUE FIM LEVOU? – Vocês devem estar se perguntando “Mas e que fim levou o Corsa 2.0 do West”?

Pois bem, o final não foi dos melhores. Nas palavras do próprio West:

“O que ocorreu foi um momento de bobeira adicionado a um pouco de velocidade, pista molhada e um bocado de azar! Isso lá pelas 4h da manhã do dia 24 de janeiro de 2003, não sei dizer exatamente a velocidade, mas não era mais que 120km/h.

corsa-porrado1

Veio a curva, longa e aberta… No meio dela a traseira escapou por alguma razão e o carro fechou a trajetória, andando de lado. Nisso saiu da pista e houve o choque com um “barranco”, um terreno cheio de mato e ligeiramente mais alto que a estrada. O impacto ocorreu na roda dianteira direita e na porta do carona com o carro exatamente de lado.

Depois disso o carro virou e bateu com o teto no chão, em uma placa de concreto que estava perdida por lá. Em seguida não sei exatamente como ocorreu, mas o carro girou de tal maneira que fez todo aquele estrago na lateral do motorista e parou com as rodas para cima e com a frente virada na direção contrária à do primeiro impacto.

corsa-porrado2

A porrada foi violenta e no máximo em alguns segundos o carro estava parado. As portas não abriam, eu e meu amigo soltamos o cinto e saímos nos arrastando pelo vidro. Após toda a merda feita, tivemos a grande sorte de sair andando e de não ter envolvido mais ninguém no acidente.

No total foram 14 meses com o motor trocado sem problemas, mas bastou um momento de descuido para tudo acabar do jeito que acabou. “

Depois do Corsa 2.0 o West apareceu com uma Parati 1984 turbo… Mas isso é história para um outro post…

24 Comentários

Arquivado em Amigos

24 Respostas para “Carro de amigo – Rodrigo “West”

  1. dud

    Esse fdp do West ta devendo vir pra SP.
    E esse mesmo fdp do West q me motivou a ter um corsa 2.0 tambem…. só que mais pra frente ainda!

  2. Uma bela história.

    Eu me recordo de ter visto esse Corsa do Rodrigo no CDR ou SS, deu o que falar.

    Abraços.

  3. Rodrigo West

    Esse veio do fundo do baú.. Quantas ‘alegrias’ esse carro me proporcionou, sem nenhuma quebra! Na questão do seguro, foi bobeira da empresa: renovaram sem vistoria e sem perceber a mudança de 60 para 110cv no documento. Na hora de pagar a indenização quiseram encrencar, mas não teve choro, graças à prévia legalização. Só que pagaram um Corsa Wind 1.0 mesmo, na época R$9500,00. Valor que, curiosamente, é insuficiente para comprar outro Corsa do mesmo ano e modelo, nos dias de hoje.

    Quem me dera ter ficado bêbado com as Westvleteren Abt. 12, considerada por críticos a melhor cerveja do mundo, tomei só duas mesmo, a 4 UE-Pilas…

    Falando em cerveja, ainda vamos tomar uma Serra Malte (ou Serramalte?) por aí…

    E, em tempo, continuo gostando muito e exclusivamente de MULHER!! ehehehe

  4. Eduardo

    Felipe, aqui é o Edu (Edu SSP, nos tempos de carsale, que quebrava o pau com os fiateiros, lembra ?)

    Então, eu lembro desse carro no CDR, tinha ate foto dele fazendo borrachão, isso la por 2001, 2002

  5. Bons tempos, pessoal gente fina que desapareceu mas fica a amizade.

    A corseira era a verdadeira ratoeira hahahahha, pega trouxa total.

    Belo projeto.

    Fiquei com vontade de montar um tambem.

    [ ]`SS

  6. Moa

    huaeHUAEuhAEUhAEHUAEhueh

    conheço essa biba ai soh por posts dos foruns da vida \o/

    loka a historia do corsa hein…. foda foi ele ter dado pt 😦

  7. Rodrigo West

    Eu acessava o CDR de 2002 até 2004, quando houve intensa migração para o Preparados.

    Esse corsinha era tão bom, que os Gol 1.0T pareciam apenas ‘1.0’, e eram justamente dos que mais caíam na mínima provocação.. eheheheh

    Por dois verões seguidos minha diversão era passar as madrugadas rodando em Balneário Camboriú atrás de brincadeiras, tendo como ponto alto assistir a poucos metros a uma Ferrari 355 sair de traseira!! Graças às lombadas, claro, na reta ela sumia…

    Infelizmente na época as câmeras digitais eram raras…

    Mas tenho este vídeo de um Corsa 2.2 com receita semelhante, que foi montado pelo mesmo mecânico do meu falecido Corsa. Quem ‘pilota’ sou eu, afundando o pé a partir da lenta, sem queimar embreagem. Estamos em 3 pessoas no carro, uns 240kg, e eu tiro o pé logo após engatar a quinta marcha, a aproximadamente de 180 no painel..

  8. BOLIXO BEBADO DE MADRUGADA

    EEEEEEEEITA CACHAÇA DA PORRA!! KKKKKKKKKKKKKKKKKK

  9. Steve McQueen

    Andei na Parati 84.

    Esse Corsa devia ser um monstrinho mesmo, relação peso/potência manda!

    Abraços!

  10. Esse seria um corsa que eu teria, adorei a história, acho que deveria sair um filme dela, chama o Spielberg..

  11. Pingback: Primeiro puxão de orelha « Felipe Bitu

  12. Miguel

    Lembro bem desse corsinha e do site contando toda transformação. Eu tinha em algum lugar fotos dos burnouts desse corsa, com ele sumindo de tanta fumaça. Bacana o post!

  13. pqp, o corsinha do west. altas histórias dos tempos da cdr com esse carro.

    tive com ele no festival em 2007, até lembrei por um momento do verdinho. aquele festival foi divertido, eu e o west alopramos um bocado!

  14. cabecão

    as homocinéticas semi-eixo foi usada as mesmas, por que aqui (rs) um conhecido fez um corsa também mas teve adaptar semi- eixo (cortar o eixo soldar) dai muita mão…. eu tenho 2.2 de astra ”trem” to afim de colocar

  15. Ary

    Pois é! pelo visto um carro potente e leve requer ateção triplicada na direção, senão!!!

  16. ISRAEL

    esse seu corsa era xoooooooou como fasso para turbinar meu corsa cd 1.0 mande me sugestoes,

  17. MaisMotor®

    temos peças de motores

  18. Renan

    Qual o nome da oficina???

  19. Rodrigo West

    Quem montou meu Corsa, mais aquele do vídeo que postei, fora um que ele próprio teve, foi um mecânico de Blumenau, o Jaime Ramos. Fora os Corsas, mais uns turbinhos que colocou em carros próprios (e talvez mais alguma coisa que eu não saiba), ele não trabalha com preparação. O forte são os carros originais mesmo, tem uma oficina pequena junto com a própria casa. Na época do meu Corsa, trabalhava sozinho mesmo, hoje um dos filhos trabalha junto.

    []s

  20. rodrigo

    gostaria de saber se alguem ja colocou o motor do kadet gs num corsa

  21. Se eu não me engano o nome da cor deste Corsa era Verde “West”

  22. Luiz Paulo

    Bom dia,
    mto loko o post…. tenho um 1.0 96 8v e queria trocar o motor por um 1.6 ou 1.8, q dica vcs podem me dar?? E qto ficou essa “bricadeira” com o 2.0, ou uma média d qto ficaria hoje??
    obrigado…

Deixar mensagem para cabecão Cancelar resposta